A Stellantis anunciou nesta semana investimentos de US$ 155 milhões em um novo projeto na Argentina para apoiar o aumento na produção de carros elétricos, um dos pilares dentro de seu plano estratégico para se tornar neutra em carbono até 2038.
Poucos dias após anunciar lucro recorde e aumento recorde de 41% nas vendas globais de carros elétricos em 2022, na comparação com o ano anterior, a Stellantis agora aponta para a mineração de cobre na Argentina.
De acordo com o comunicado oficial, o grupo automotivo está adquirindo participação acionária de 14,2% na McEwen Copper, subsidiária da mineradora canadense McEwen Mining, que possui os projetos Los Azules na Argentina, e Elder Creek em Nevada, nos Estados Unidos.
Esse movimento tornará a Stellantis o segundo maior acionista da McEwen Copper’s, junto com a Rio Tinto, através de sua venture de tecnologia de lixiviação de cobre, Nuton. Los Azules planeja produzir 100 mil toneladas anuais de cobre cátodo com 99,9% de pureza a partir de 2027 e as reservas podem assegurar a operação por pelo menos 33 anos.
“A Stellantis pretende liderar a indústria com o compromisso de ser carbono neutra até 2038 – uma meta que exige inovação e redefinição completa de todo o negócio”, disse Carlos Tavares, CEO da Stellantis.
“Estamos dando passos importantes na Argentina e no Brasil, com o objetivo de descarbonizar a mobilidade e de assegurar suprimentos estratégicos de matérias-primas necessárias ao sucesso dos planos globais de eletrificação da Companhia”, acrescentou.
Estratégico para o futuro da mobilidade elétrica, uma vez que carros elétricos requerem muito mais cobre que os veículos convencionais, esta matéria-prima verá sua demanda triplicar nos próximos anos. O objetivo da Stellantis é suprir parte da demanda projetada a partir de 2027.
Com o plano estratégico Dare Forward 2030, a Stellantis prevê atingir 100% de participação de veículos elétricos (BEV) no mix de vendas de carros de passeio na Europa e de 50% no mix de vendas de carros de passeio e comerciais leves nos Estados Unidos até 2030. No Brasil, a participação dos chamados "veículos de baixas emissões" (LEV) será de aproximadamente 20% até o final da década, segundo a empresa.
O comunicado também destaca o papel da América do Sul dentro do processo de transição energética do grupo automotivo para carbono neutro. É um ponto interessante, considerando que as metas mais agressivas de eletrificação estão na Europa, e depois nos Estados Unidos.
Nesse contexto, mais intrigante ainda (e que destoa da visão anunciada de eletrificação global) foi a fala recente de Tavares sobre os carros elétricos no Brasil em entrevista para o Valor Econômico.
O executivo ressaltou que o etanol e o carro flex são a solução para o Brasil, segundo a opinião de “cientistas” que ele encontrou em uma viagem recente na América Latina. Na sequência, emendou:
"o elétrico não faz sentido se comparado com o carro que pode rodar com 100% de etanol. Sem contar que é muito mais caro para a classe média"
Mais adiante, Tavares expressou sua opinião sobre o mercado brasileiro ao afirmar que a sociedade e o cidadão, em sua "avaliação honesta é que não, eles não precisam porque vocês tem uma solução muito boa para o planeta", novamente se referindo ao etanol.
Ele também falou sobre os desafios dos carros elétricos, como preço de aquisição mais alto e necessidade de incentivos, bem como a oferta de matérias-primas para sua produção no mercado global.
Atualmente, a Stellantis possui apenas três carros de passeio totalmente elétricos no Brasil, os modelos Peugeot e-208 GT e e-2008 GT e o Fiat 500e.
Mas voltando ao anúncio de investimento na Argentina, é importante que a região da América do Sul comece a desempenhar seu papel na transição energética global, mas isso não deve se limitar aos insumos para a produção de carros e baterias.
Ao mesmo tempo em que a Stellantis faz este anúncio, rumores apontam que a GM estaria interessada na participação de uma unidade de metais básicos da brasileira Vale, e a Tesla estaria negociando a compra da Sigma Lithium, uma mineradora controlada por um fundo brasileiro que iniciará as operações de extração de lítio no norte de Minas Gerais em abril.
São movimentos muito importantes, mas devemos destacar que é necessário uma inserção mais ampla no mundo da mobilidade elétrica, com incentivos, plano estratégico, metas, produção local e a incorporação de tecnologia que isso trará à indústria, sob o risco de ficarmos para trás em relação aos mercados desenvolvidos.
Fonte: Stellantis
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